Friday, March 02, 2007

Esta (in) certa maneira de ver
Dissertar sobre o ambiente tornou-se nos dias que correm uma necessidade vital. Falamos disso porque facilmente percebemos agora que o que andámos a fazer ao planeta não admite muita escolha: ou nos mudamos, ou paramos já de estragar. Falamos nisso sempre do ponto de vista da manutenção da vida humana na Terra. Se a questão se colocasse para poupar a vida dos pardais, das cegonhas ou das papoilas mal estariam os pardais, as papoilas ou as cegonhas. No entanto, esta decisão de melhorar as coisas, este solene acreditar que as coisas vão mudar porque nós, humanos, vamos fazer alguma coisa deixa-me sempre à beira de um ataque de riso.
Penso eu: Tudo se está silenciosamente a tratar. Vou ser um ser humano ambientalmente consciente, ou mais ainda, vou fazer o que puder para evitar sujar a Terra que é a minha casa, mas, devagarinho, a minha casa Terra está a tomar conta de si. No dia em que percebeu que todos os seus males residiam nesta espécie humana, tudo fez para a dotar de inteligência (que afinal é um acessório que só serve para distrair as espécies). Com a inteligência o ser humano rapidamente se sentiu rei. Desbaratou vidas de outros animais e de plantas, decorou a sua casa Terra como bem lhe aproveu. Depois criou a tecnologia. Começou a inventar a roda, que só interessou os outros animais como objecto de recreio, depois tratou de inventar o domínio da Natureza, industrializando a agricultura e até a criação de animais. Desatou a reproduzir-se loucamente, controlando as pestes e nem se apercebeu da pressão que estava a exercer sobre a casa Terra. Depois veio o computador e a tecnologia afastou-o de vez do mundo do trabalho. As máquinas roubaram a razão de viver aos humanos e eles tornaram-se ou desempregados ou escravos das máquinas. Os escravos são poucos, cada vez menos, e andam cansados mas felizes. Não podem procriar porque senão o patrão despede-os. Os desempregados também não; não têm dinheiro para dar de comer às suas crias. A casa Terra suspira baixinho. Ela sabe que é uma questão de tempo até apagar o rasto dessa espécie daninha. O equilíbrio está a regressar.
Mas o Homem, certo de que só ele é que pensa, só ele faz ou impede que se faça, olha para tudo e acredita que está na sua mão salvar a Terra. Trabalha com a certeza dos deuses para a criação de uma Terra amiga, isenta de cheias e frios, de ventos e tremores. Estuda, regista, disserta. Os outros animais aninham-se nos seus ninhos, certos de que a troça é uma manifestção indigna. Calam-se quando os vêm passar apressados para o trabalho, ou indiferentes, ou em queixume. Olham, escutam as conversas em que uns se queixam dos outros, em que dividem o seu Mundo Casa em tantas casas quantas as vontades e desviam o olhar para contemplarem o crescimento das papoilas. Sentem o respirar da Terra e os seus tremores anunciados como a angústia dos homens. Não sabem como os podem ajudar a sair desse enorme buraco em que cairam. Ladram, miam, grasnam... mas sabem que dificilmente o Homem sairá voluntariamente do buraco da sua vaidade.

Sunday, April 16, 2006

Quem quer casar
com a carochinha?


anúncio publicado no jornal Expresso de ... Abril de 2006