Esta (in) certa maneira de ver
Penso eu: Tudo se está silenciosamente a tratar. Vou ser um ser humano ambientalmente consciente, ou mais ainda, vou fazer o que puder para evitar sujar a Terra que é a minha casa, mas, devagarinho, a minha casa Terra está a tomar conta de si. No dia em que percebeu que todos os seus males residiam nesta espécie humana, tudo fez para a dotar de inteligência (que afinal é um acessório que só serve para distrair as espécies). Com a inteligência o ser humano rapidamente se sentiu rei. Desbaratou vidas de outros animais e de plantas, decorou a sua casa Terra como bem lhe aproveu. Depois criou a tecnologia. Começou a inventar a roda, que só interessou os outros animais como objecto de recreio, depois tratou de inventar o domínio da Natureza, industrializando a agricultura e até a criação de animais. Desatou a reproduzir-se loucamente, controlando as pestes e nem se apercebeu da pressão que estava a exercer sobre a casa Terra. Depois veio o computador e a tecnologia afastou-o de vez do mundo do trabalho. As máquinas roubaram a razão de viver aos humanos e eles tornaram-se ou desempregados ou escravos das máquinas. Os escravos são poucos, cada vez menos, e andam cansados mas felizes. Não podem procriar porque senão o patrão despede-os. Os desempregados também não; não têm dinheiro para dar de comer às suas crias. A casa Terra suspira baixinho. Ela sabe que é uma questão de tempo até apagar o rasto dessa espécie daninha. O equilíbrio está a regressar.
Mas o Homem, certo de que só ele é que pensa, só ele faz ou impede que se faça, olha para tudo e acredita que está na sua mão salvar a Terra. Trabalha com a certeza dos deuses para a criação de uma Terra amiga, isenta de cheias e frios, de ventos e tremores. Estuda, regista, disserta. Os outros animais aninham-se nos seus ninhos, certos de que a troça é uma manifestção indigna. Calam-se quando os vêm passar apressados para o trabalho, ou indiferentes, ou em queixume. Olham, escutam as conversas em que uns se queixam dos outros, em que dividem o seu Mundo Casa em tantas casas quantas as vontades e desviam o olhar para contemplarem o crescimento das papoilas. Sentem o respirar da Terra e os seus tremores anunciados como a angústia dos homens. Não sabem como os podem ajudar a sair desse enorme buraco em que cairam. Ladram, miam, grasnam... mas sabem que dificilmente o Homem sairá voluntariamente do buraco da sua vaidade.